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Carta Aberta do Fundador da Furacão LGBTQ

Tem coisas na vida que a gente nunca esquece! Na minha vida, uma dessas coisas foi o dia que tomei a decisão de criar o perfil do então "Athletico LGBTQ". Lembro de tudo que me fez tomar essa decisão: o primeiro jogo que levei meu namorado, o medo do que poderia acontecer se percebessem que a gente namorava, lembro que cheguei em casa e pesquisar sobre LGBTQs em estádios e lembro das matérias que li sobre a Coligay, torcida gay do Grêmio que era tida como amuleto da sorte do clube.



Criei o perfil no mesmo dia e fiquei semanas com ele sem coragem para postar nada, até que um dia um torcedor fez uma postagem homofóbica e resolvi que enfim, aquele era o momento de tirar a página do armário. Lembro do nosso primeiro like, da nossa primeira seguidora e que pouco mais de um mês depois já éramos mil seguidores. Nesse momento percebi que não tinha mais volta, mesmo com medo de ser descoberto e hostilizado, sabia que tinha que seguir em frente.


Um ano se passou e nessa caminhada crescemos tanto, tantas coisas aconteceram, tanta gente apareceu e percebi que não estava mais sozinho, mais do que isso, percebi que aquele meu medo em um dia de jogo nem se comparava ao medo de tanta gente que passou por tantas coisas piores, a cada dia entendia quão importante era o que estava fazendo.


Ao meu lado reuni pessoas incríveis, que mesmo sem saber com quem estavam falando, sem me conhecer, aceitaram o desafio de me ajudar a coordenar isso tudo, assumiram projetos, tarefas, funções e trabalhos e junto comigo se dedicaram de corpo e alma ao nosso projeto, sem essas pessoas não sei se conseguiria ir tão longe e é a essas pessoas que sou imensamente grato.


Não contar quem estava por trás de tudo isso era pela minha segurança e de quem estava administrando junto comigo, mas também pela segurança de cada um dos nossos membros. Também não queria que personificassem todas as nossas ações como algo feito por uma pessoa só, afinal nosso projeto é coletivo e tem muita gente, somos quase 200 torcedores LGBTQs e representamos cada um deles. Mais um ano começou e decidimos que a gente revelaria a nossa identidade assim que o clube nos garantisse alguma segurança, como já aconteceu em muitos clubes pelo Brasil.


Em nossa última carta dissemos que para ser grande era preciso coragem, coragem que cobramos do clube quando pedimos que eles se posicionassem contra a homofobia, coragem que, como todos sabem, o clube não teve. A gente não tem mais tempo para esperar, nós temos coragem e sabemos que nossos sonhos já não cabem mais no armário, por isso, e para conseguir continuar crescendo sem amarras precisamos nos livrar desse segredo.


É por isso que, com a certeza de ser a coisa certa a fazer, me apresento a vocês!

Prazer, Higor Juan Bernardino, orgulhosamente fundador da Furacão LGBTQ.

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